Com este belo texto de Rubem Alves, homenageamos aos queridos Mestres, com todo amor e carinho.
Salve 15 de Outubro ! Feliz Dia do Professor !
Salve 15 de Outubro ! Feliz Dia do Professor !
Os pensamentos me
chegam de forma inesperada, sob a forma de aforismos.
Fico feliz porque sei que
Lichtenberg, William Blake e Nietzsche frequentemente eram também atacados por
eles.
Digo "atacados" porque eles surgem repentinamente, sem preparo,
com a força de um raio. Aforismos são visões: fazem ver, sem explicar. Pois
ontem, de repente, esse aforismo me atacou:
“Há escolas que são gaiolas. Há escolas que são asas”.
As gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros
engaiolados sempre têm um dono. Seu dono pode levá-los para onde quiser.
Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos
pássaros é o vôo. Asas não amam as gaiolas. O que elas amam é o vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar.
O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado
Esse pensamento nasceu de um sofrimento: sofri conversando com professoras de
segundo grau, em escolas de periferia. O que elas contam são relatos de horror
e medo. Balbúrdia, gritaria, desrespeito, ofensas, ameaças...
Ouvindo os
seus relatos vi uma jaula cheia de tigres famintos, dentes arreganhados, garras
à mostra – e as domadoras com seus chicotes, fazendo ameaças fracas demais para
a força dos tigres...
Sentir
alegria ao sair da casa para ir para a escola? Ter prazer em ensinar? Amar os
alunos? O seu sonho é livrar-se de tudo aquilo. Mas não podem. A porta de ferro
que fecha os tigres é a mesma porta que as fecham junto com os tigres.
Nos tempos da minha infância eu tinha um prazer cruel: pegar passarinhos. Fazia minhas próprias arapucas, punha fubá dentro e ficava escondido, esperando... O pobre passarinho vinha, atraído pelo fubá. Ia comendo, entrava na arapuca, pisava no poleiro – e era uma vez um passarinho voante.
Cuidadosamente
eu enfiava a mão na arapuca, pegava o passarinho e o colocava dentro de uma
gaiola. O pássaro se lançava furiosamente contra os arames, batia as asas,
crispava as garras, enfiava o bico entre os vãos, na inútil tentativa de ganhar
de novo o espaço, ficava ensanguentado... Sempre me lembro com tristeza da
minha crueldade infantil.
Violento, o pássaro que luta contra os arames da gaiola? Ou violenta será a imóvel gaiola que o prende? Violentos, os adolescentes de periferia? Ou serão as escolas que são violentas? As escolas serão gaiolas?
Me falarão sobre a necessidade das escolas dizendo que os adolescentes de periferia precisam ser educados para melhorar de vida. De acordo. É preciso que os adolescentes, é preciso que todos tenham uma boa educação. Uma boa educação abre os caminhos para uma vida melhor.
O que é uma boa educação?
O que os burocratas pressupõem é que os alunos ganham uma boa educação se
aprendem os conteúdos dos programas oficiais. E para se testar a qualidade da
educação criam-se mecanismos, provas, avaliações, exames, testes.
Mas será mesmo? Será que a aprendizagem dos programas oficiais se identifica
com o ideal de uma boa educação? Você sabe o que é “dígrafo”? E os usos da
partícula “se”? E o nome das enzimas que entram na digestão? E o sujeito da
frase “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas de um povo heródico o brado
retumbante”?
Qual a
utilidade da palavra “mesóclise”? Pobres professoras, também engaioladas pelos
programas... São obrigadas a ensinar o que os programas mandam, sabendo que é
inútil.
Bruno
Bettelheim relata sua experiência com as escolas: “Fui forçado (!) a estudar o
que os professores haviam decidido o que eu deveria aprender – e aprender à sua
maneira...”
Qual é o sujeito da educação?
O sujeito da educação é o corpo. É o corpo que quer aprender para poder viver. Esse é o único objetivo da educação: viver e viver com prazer. A inteligência é um instrumento do corpo cuja função é ajudá-lo a viver.
Nietzsche dizia que ela, a inteligência, era “ferramenta” e “brinquedo” do corpo. Nisso se resume o programa educacional do corpo: aprender “ferramentas”, aprender “brinquedos”.
No momento em que escrevo estou ouvindo uma sonata de Beethoven. Ela não serve para nada. Não é ferramenta. Não serve para nada. Mas enche a minha alma de felicidade.
Nessas duas palavras, ferramentas e brinquedos, está o resumo educação.
Ferramentas e brinquedos não são gaiolas. São asas. Ferramentas me permitem voar pelos caminhos do mundo.
Brinquedos me permitem voar pelos caminhos da alma. Quem está aprendendo ferramentas e brinquedos está aprendendo liberdade.
Quem aprende liberdade não fica violento. Fica alegre, vendo as asas crescerem... Assim todo professor, ao ensinar, teria de perguntar: “Isso que vou ensinar é ferramenta? É brinquedo?” Se não for é melhor deixar de lado.
As estatísticas oficiais anunciam o aumento das escolas e o aumento dos alunos matriculados. Esses dados não me dizem nada. Não me dizem se são gaiolas ou asas. Mas eu sei que há professores que amam o vôo dos seus alunos. Há esperança.
Autor: Rubem Alves.
Fonte: Guia das Escolas. Disponível em: http://www.portalguiaescolas.com.br/interna.php?pag=espaco_educacional&espaco_educacional_id=27
Fonte: Guia das Escolas. Disponível em: http://www.portalguiaescolas.com.br/interna.php?pag=espaco_educacional&espaco_educacional_id=27
Biografia do autor
"Enquanto a sociedade feliz não chega, que haja pelo menos
fragmentos de futuro em que a alegria é servida como
sacramento, para que as crianças aprendam que o
mundo pode ser diferente. Que a escola,
ela mesma, seja um fragmento do
futuro..."
Rubem Alves é psicanalista,
educador, teólogo, autor de livros e artigos abordando
temas religiosos, educacionais e existenciais, além de uma série de livros
infantis.
Nasceu no dia 15
de setembro de 1933, em Boa Esperança, sul de Minas Gerais. A cidade ficou conhecida pela música "Serra da Boa Esperança" de Lamartine Babo e Francisco Alves. A família mudou-se para o Rio de Janeiro,
em 1945, onde, apesar de matriculado em bom colégio, sofria com a chacota de
seus colegas que não perdoavam seu sotaque mineiro. Buscou refúgio na religião,
pois vivia solitário, sem amigos. Foi bem sucedido no estudo de teologia e
iniciou sua carreira dentro de sua igreja como pastor, no interior de Minas
Gerais.
Estudou Teologia no Seminário Presbiteriano de Campinas (SP), tendo se transferido para Lavras (MG), em 1958, onde exerce as funções de pastor até 1963, quando foi estudar em Nova York, retornando ao Brasil no mês de maio de 1964, com o título de Mestre em Teologia pelo Union Theological Seminary. Denunciado pelas autoridades da Igreja Presbiteriana como subversivo, em 1968, foi perseguido pelo regime militar. Abandonou a igreja presbiteriana e retornou com a família para os Estados Unidos, fugindo das ameaças que recebia. Lá, torna-se Doutor em Filosofia (Ph.D.) pelo Princeton Theological Seminary.
Estudou Teologia no Seminário Presbiteriano de Campinas (SP), tendo se transferido para Lavras (MG), em 1958, onde exerce as funções de pastor até 1963, quando foi estudar em Nova York, retornando ao Brasil no mês de maio de 1964, com o título de Mestre em Teologia pelo Union Theological Seminary. Denunciado pelas autoridades da Igreja Presbiteriana como subversivo, em 1968, foi perseguido pelo regime militar. Abandonou a igreja presbiteriana e retornou com a família para os Estados Unidos, fugindo das ameaças que recebia. Lá, torna-se Doutor em Filosofia (Ph.D.) pelo Princeton Theological Seminary.
Sua tese de doutoramento em teologia - “A Theology of Human Hope”, publicada em 1969 pela editora católica Corpus Books é, no seu entendimento, “um dos primeiros brotos daquilo que posteriormente recebeu o nome de "Teologia da Libertação”. De volta ao Brasil, por indicação do professor Paul Singer, conhecido economista, é contratado para dar aulas de Filosofia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro (SP). Em 1973, transferiu-se para a Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, como professor-adjunto na Faculdade de Educação.
Saiba mais sobre o Dia do Professor no Brasil e no Mundo
15 DE OUTUBRO DIA DO PROFESSOR. ORIGEM HISTÓRICA DA CELEBRAÇÃO
ESCOLAS PÚBLICAS JAPONESAS. NO BRASIL NADA A COMEMORAR NO DIA DO PROFESSOR
15 de Outubro - Feliz Dia do Professor !
HOMENAGENS AO GEÓGRAFO E PROFESSOR MILTON SANTOS
Referências: sites pesquisados
Gaiolas ou Asas? ALVES, Rubem. Portal Guia Escolas. Disponível em:
http://www.portalguiaescolas.com.br/interna.php?pag=espaco_educacional&espaco_educacional_id=27
Instituto Harmonia na Terra. Disponível em:
http://www.harmonianaterra.org.br/nt_html/761-gaiolas_e_asas.html
Releituras. Biografia de Rubem alves
http://www.releituras.com/rubemalves_bio.asp
Releituras. Biografia de Rubem alves
http://www.releituras.com/rubemalves_bio.asp
Todas as imagens são do Google.
Feliz dia do professor!
ResponderExcluirQue cada dia seja mais uma jornada,que todos tenham paciencia.nao e facil ter essa profissao,mas quando tem gosto tudo se torna facil.se temos um futuro melhor e estamos a onde estamos temos que agradecer a vcs professores
Tudo de bom pra todos ....
Aluna:aline pires
Turma:3 l
Turno: noturno
Muitíssimo obrigada, Aline, por essas palavras de reconhecimento e de homenagens aos nossos queridos Mestres. Que Deus te abençoe e te guarde ! Também gostei muito do comentário de Marivaldo, só que ele postou no projeto Mãe Africa. rsr. Bjs para vcs !
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