domingo, 19 de outubro de 2014

Mulheres Símbolos da Resistência Contra a Escravidão Negra: Rainha Ginga ou Nzinga Mbandi Ngola em Angola, Teresa de Benguela no Mato Grosso, Luíza Mahim na Bahia, Dandara em Alagoas

Os negros trazidos para o Brasil  não aceitavam passivamente a escravidão e  as condições impostas pelo cativeiro, a exemplo da desgastante rotina de trabalho nos engenhos de cana-de-açúcar. Os escravos articulavam meios de resistir e se colocavam contra seu opressor imediato -  os Senhores de Engenho, numa batalha que durou mais de quatro séculos.   Sempre que podiam, reagiam com revoltas, não executavam bem os trabalhos, faziam boicotes, cometiam atos de vingança, fugiam.  Por isso, os grandes proprietários tinham  seus caçadores de negros, chamados capitães-do-mato. Homens e mulheres se destacaram tanto no Brasil como na África. Conheça algumas  dessas mulheres, através das quais rendemos nossas homenagens a todos os afrodescendentes da Diáspora Africana  na América e no mundo: 

A Rainha Ginga

Seu nome original era Nzinga Mbandi Ngola, mas ficou conhecida  como Rainha Ginga. Os portugueses chamavam-na de D. Ana de Souza. Pertencia ao grupo étnico Mbundu e filha dos reis mbundus no território Ndongo.  Era a soberana do povo do reino de Matamba e Ndongono, que se estabeleceu no sudoeste da África no século XVII.

Viveu no período do tráfico negreiro  e lutou contra os portugueses, reunindo vários povos para  resistir contra a escravização dos povos dessas tribos na África.  Seu título real na língua quimbundo Ngola foi usado pelos portugueses para denominar a região que passou a ser chamada Angola.

África atual: colares africanos
A Rainha Ginga conseguiu fazer tratados com os portugueses para que seu povo não fosse escravizado e transportado para a América. Para tanto, aceitou converter-se ao catolicismo, recebendo o nome de Dona Ana de Sousa. Guerreou e ganhou respeito por liderar pessoalmente suas tropas onde preferia ser chamada de Rei, ao invés de Rainha.

Africana com seu bebê
Formou aliança com os reinos do Congo, Kassanje, Dembos e Kissama. Como soberana rompeu seu tratado com Portugal e abandonou a religião católica, vindo a praticar  uma série de violências contra portugueses  e populações ligadas a  Portugal na região.  Na  guerra contra o governador de Angola, Fernão de Sousa,  muitas pessoas sobre o comando de Nzinga morreram,  e duas de suas  irmãs foram capturadas,  levadas para Luanda e batizadas com nomes católicos.
Viveu em paz por duas décadas, mas  foi traída pelo povo Jaga. “Jagas” foi o nome que os Portugueses deram, no final do Sec. XVI e durante o sec. XVII, a grupos de nativos africanos, predominantemente nômadas, que se caracterizavam por não trabalhar, dedicando-se à rapina e à violência sobre as populações.
Cultura angolana hoje 

A rainha Ginga fez aliança com os holandeses,  que invadiram Luanda, a capital de Angola. Após várias batalhas, em 1659, Dona Ana assinou um tratado de paz com Portugal.  Ajudou a reinserir antigos escravos e formou uma economia que não dependia do tráfico de escravos, ao contrário de outras no continente africanoFoi contemporânea de Zumbi dos Palmares (1655-1695), heroi da resistência negra no Brasil Colônia. Nzinga morreu aos oitenta anos de idade, admirada e respeitada por Portugal. 
Após sua morte, sete mil soldados de seu reino foram trazidos para o Brasil e vendidos como escravos. O nome da Rainha Ginga é citado em vários folguedos da Festa de Reis dos negros do Rosário. Nesta manifestação que acontece geralmente no Rio Grande do Norte, reis do congo católicos lutam contra reis que não aceitam o cristianismo.
                                              TERESA DE BENGUELA

Teresa de Benguela foi uma líder do quilombo de Quariterê  ou Quilombo do Piolhoem Guaporé, próximo a Cuiabá, capital do estado de Mato Grosso, Região Centro-Oeste do Brasil, perto da fronteira com a atual Bolívia,  o qual sobreviveu até 1770  (século XVIII).  Era mulher de José Piolho, que chefiava o Quilombo. 
Quando seu marido morreu, Teresa de Benguela assumiu o comando. Revela-se uma líder ainda mais implacável e obstinada.  Valente e guerreira ela comandou uma comunidade de três mil pessoas. Uniu negros, brancos e indígenas para defender o território  onde viviam. Liderou o desenvolvimento do quilombo, implantando  o uso do ferro na agricultura.  Sob  seu comando o quilombo cresceu tanto que agregou índios bolivianos e brasileiros.
Mulher de tribo africana (2014).
A rainha Teresa de Benguela chegou a ser comparada a Zumbi dos Palmares, um dos símbolos da resistência negra no Brasil. É considerada uma heroína por ter combatido a escravidão e a opressão.   Foi presa e  suicidou-se. 

Em 1994, sua história virou  samba enredo da Unidos do Viradouro,  por obra do carnavalesco Joãozinho Trinta, sob o título:   "Teresa de Benguela - Uma Rainha Negra no Pantanal".   O dia 25 de julho,  que comemorado o Dia da Mulher Negra, é também considerado o Dia de Teresa de Benguela.
Dandara




DANDARA

Dandara, a guerreira do quilombo de Palmares, na Serra da Barriga em Alagoas,  estado da Regiáo Nordeste do Brasil, mulher negra, viveu no século XVII,  período do Brasil
Colônia Dandara  significa  “a mais bela”.
Foi uma das lideranças femininas na luta contra o sistema escravocrata no século XVIIEra mulher de Zumbi e mãe de seus três filhos:  Motumbo,  Harmódio e Aristogíton
Ajudou seu marido nas  táticas e estratégias de guerra. 
Suicidou-se depois de presa, em 6 de fevereiro de 1694, para não retornar à condição de escrava. Não existem dados sobre sua vida e quase todos os relatos são lendas.
                                   O QUE  ERAM OS QUILOMBOS ?

Os quilombos eram  espaços de resistência, habitados por  milhares de  negros, indígenas e brancos pobres.  Estes habitantes eram denominados de quilombolas ou mocambeiros, surgidos no período colonial e pós-colonial no Brasil. 
Nos quilombos os negros viviam livres, cultivavam diversos produtos, como mandioca, milho, feijão, batata,  criavam galinhas,  porcos, fabricavam panelas, esteiras, redes e faziam comércio com as povoações vizinhas. 

Destacou-se o  Quilombo de Palmares localizado na Serra da Barriga, entre os  estados de Alagoas e Pernambuco, na região nordeste do Brasil. Tornou-se o maior centro de resistência negra no período colonial.  



É o quilombo  mais conhecido, sendo considerado um “estado africano no Brasil”, devido a sua  grande área territorial,  tendo  alcançado, no seu auge, cerca de 50 mil pessoas, contando-se todos os mocambos ali situados. 
A nação erguida por africanos de diferentes etnias, que viviam como escravos no Brasil,  foi batizada por eles de Angola Janga, que significa "pequena Angola".


Seu líder mais conhecido é  Zumbi dos Palmares, que morreu  no dia 20 de novembro de 1695 (final do século XVII). Por isso, o dia da Consciência Negra é comemorado nessa data, com a finalidade de homenagear a todos os  negros que lutaram bravamente  contra a escravidão no Brasil.
                                                        
                                                          LUÍSA MAHIN

Luísa Maheu ou Luísa Mahin pertencia à tribo Mahi, povo habitante dos atuais  Benin,  Togo, Gana e regiões vizinhas, praticantes da religião islâmica ou muçulmana.  

No Brasil ficaram conhecidos como malês, que no Iorubá significa islâmico, termo que designava os  negros muçulmanos que sabiam ler e escrever em língua árabe,  e muitas vezes mais instruídos que seus senhores. 


Luíza Mahin afirmava ter sido princesa na África. Sua mãe trabalhava no comércio de Salvador como quitandeira, onde era muito conhecida. Conforme texto autobiográfico do seu filho Luís Gama, Luíza foi detida em várias ocasiões, por se envolver em planos de revoltas de escravos. 

Ela esteve envolvida na articulação de revoltas e levantes de escravos, que sacudiram a então Província da Bahia nas primeiras décadas do século XIX, como a Revolta dos Malês (1835, século XIX) e a Sabinada (1837), quando foi deportada para o Rio de Janeiro, onde desapareceu.



O QUE FOI A REVOLTA DOS MALÊS? 


A  Revolta dos Malês foi um movimento que ocorreu em Salvador, capital da Bahia, Região Nordeste do Brasil, entre os dias 25 e 27 de janeiro de 1835, quando cerca de 1500 negros malês, saíram do bairro da Vitória em Salvador, indo até Água de Meninos, na Cidade Baixa, liderados por Manuel Calafate, Aprígio, Pai Inácio e outros. 

Eles pretendiam acabar com:  
a) a escravidão; b) o confisco dos bens dos brancos e mulatos pelo governo português;   c) a obrigatoriedade de praticar a religião católica; 
d) implantar uma República Islâmica na Bahia. 
Referências (sites pesquisados)
 Instituto Bambarê. Disponível em: