As antigas sabedorias dos povos africanos vêm sendo
contadas de boca em boca por sucessivas gerações, percorrendo as diferentes
paisagens do continente ou cantadas em praça pública, contribuindo para
conservar e transmitir a memória oral ensinadas
como lições de vida às gerações mais novas. São histórias de caçadores e agricultores,
bruxas e feiticeiros, reis e princesas, heróis que atravessam a mata para
cumprir seus destinos.
É com o propósito de destacar a importância de se transmitir aos mais jovens valores fundamentais de respeito aos antepassados, à natureza, aos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, como pregavam os revolucionários da França de 1789 (Revolução Francesa), que apresentamos algumas lendas africanas e a força dos tambores que cruzaram o Oceano Atlântico e chegaram ao Brasil.
Cada país, cada povo, cada região tem suas tradições, seus costumes, sua cultura. As histórias, lendas, danças, artes e maneira de viver de um determinado local é o que chamamos de cultura popular.
“Cultura popular são as manifestações dos costumes, crenças e atividades artísticas produzidas pelo povo e passadas livremente de geração a geração." A cultura brasileira é muito rica, porque tem a influência de vários povos que contribuíram para a nossa formação, como os portugueses, os indígenas e os africanos.
Iremos contar um pouco da força da mitologia e a riqueza cultural da África e de seus povos, destacando contos e lendas sobre instrumentos musicais de origem africana e lendas dos Orixás, Deuses da África.
Para melhor compreensão do que iremos estudar, vamos primeiro tentar entender os gêneros textuais: mito, fábula, conto
e lenda. Eles fazem parte da literatura popular, a qual é transmitida
oralmente, de geração a geração. Os mitos, histórias, lendas, provérbios e adivinhações fazem parte da literatura popular,que é tão apreciada no mundo inteiro, por diferentes povos. Vamos conhecer esses gêneros:
1) Mito - não é o mesmo que fábula, conto de
fada ou lenda. Mitos - são narrativas utilizadas pelos
povos antigos para explicar fatos da vida real e fenômenos da natureza
que não eram compreendidos por eles, a exemplo do Mito da Criação do Mundo
(Cosmologia).
Os mitos se utilizam de muita simbologia, personagens
sobrenaturais, deuses, semi-deuses e heróis para explicar a origem das coisas.
Está relacionado com uma dada cultura e/ou religião e procura
explicar os principais acontecimentos da vida, os fenômenos naturais, as
origens do Mundo e do Homem por meio de criaturas sobrenaturais, como:
deuses, semi-deuses e heróis.
Um dos objetivos do mito, portanto, é
explicar pela imaginação e pela fantasia, fatos que a ciência não
explica. Todos os povos possuem seus mitos. Alguns assuntos como a criação
do mundo, deram origem a vários outros, fazendo com que os
vários povos da Terra tenham a sua própria explicação para a origem
do mundo.
Mitologia é o estudo e interpretação do mito e
do conjunto de mitos de uma determinada cultura. Exemplos: mitologia grega, mitologia romana,
mitologia africana e mitologia egípcia (do Egito - país situado no Norte
da África).
2) Fábula - é uma narrativa curta que traz uma reflexão sobre os valores humanos, onde
os animais são os personagens principais e os seres humanos podem não estar
presentes na história. Na fábula os animais falam, pensam e agem como seres humanos. O objetivo da fábula é transmitir um ensinamento, criticar uma determinada maneira de agir e de se comportar com o outro. Por isso, a fábula sempre termina com uma lição de moral.
Veja no exemplo da fábula a raposa e as uvas, animal que é sempre mostrado
como muito esperto. Veja também o leão e o rato.
A Raposa e as Uvas
Uma raposa faminta entrou num terreno onde havia uma parreira cheia de uvas maduras, cujos cachos se penduravam muito alto, bem acima de sua cabeça. A raposa não resistiu à tentação de chupar aquelas uvas mas, por mais que pulasse, não conseguia abocanhá-las. Cansada de tanto pular, olhou mais uma vez os apetitosos cachos de uvas e disse: ESTÃO VERDES ...
Moral da história: é fácil desdenhar daquilo que não se alcança.
O Leão e o Rato
Um Leão dormia sossegado, quando foi despertado por um Rato, que passou
correndo sobre seu rosto. Com um bote ágil ele o pegou, e estava pronto para
matá-lo, quando o Rato suplicou:
- Ora, se o senhor me poupasse, tenho certeza que um dia poderia
retribuir sua bondade.
Rindo por achar ridícula a ideia, assim mesmo, ele resolveu libertá-lo. Aconteceu que, pouco tempo depois, o Leão caiu numa armadilha colocada
por caçadores. Preso ao chão, amarrado por fortes cordas, sequer podia
mexer-se. O Rato, reconhecendo seu rugido, se aproximou e roeu as cordas até
deixá-lo livre. Então disse:
- O senhor riu da ideia de que eu jamais seria capaz de ajudá-lo. Nunca
esperava receber de mim qualquer favor
em troca do seu. Mas agora sabe, que mesmo um pequeno Rato é capaz de retribuir
um favor a um poderoso Leão.
Moral da história: Os pequenos amigos podem se revelar os melhores e mais leais aliados.
“Quem conta um conto, aumenta um ponto.”, diz o dito popular.
3) Conto - é uma
narração breve de um acontecimento. Em geral, não apresenta divisão em
capítulos. O conto é curto e direto. Tem estrutura fechada e um número reduzido
de personagens. As características a seguir, servem para nos ajudar a identificar esse gênero literário, tão popular.
O conto é uma forma de contar e passar adiante
nossas histórias. Narra um fato inusitado, ou seja, que não é comum, mas que pode ocorrer na vida das pessoas. Por isso
atrai leitores de todas as idades e níveis intelectuais. Sua linguagem é simples,
direta, acessível e dinâmica.
É uma narrativa
linear e curta no tamanho e no tempo. As ações se passam em um só espaço, tem um
único eixo temático e um conflito. Todas
as ações se encaminham direto para o desfecho final. O primeiro grande contista
brasileiro foi Machado de Assis, que se revela no início do Realismo, e seu nome se tornaria consagrado pelo brilhantismo com
que dominava as palavras.
Tipos de contos
Alguns autores falam de contos
alegóricos, os contos fantásticos, os contos satíricos, os contos de fadas,
entre outros.
O
conto de fada é uma história fictícia, ou seja, não é real, que traz elementos ou criaturas mágicas (era uma vez...). Os contos de fadas são uma variação do conto popular ou fábula. É comum o uso de príncipes e princesas. A linguagem é simples e
direta possuindo apenas um clímax. Exs:
O Soldadinho de Chumbo, O Patinho Feio, A Lenda do Tambor Africano - O Sonho dos Macaquinhos, que você vai ler aqui, entre tantos outros que existem.
4) Lenda- é uma narrativa de caráter fantasioso transmitida pela tradição oral de geração a geração, através dos tempos. Na maioria das vezes, as lendas surgem a partir de acontecimentos verdadeiros, que procuram explicar pela imaginação fatos que os seres humanos não conseguem explicar pela razão.
As personagens das lendas nem sempre são seres humanos. Existem elementos da flora (animais), da fauna (plantas) , seres mágicos, monstros, pessoas e seres fantásticos. A principal característica da lenda é ser oral. Não se conhece o autor dessas narrativas. É cultura popular. Isso explica o porquê de existir várias versões para uma mesma história contada em lugares diferentes.
No Brasil, de norte a sul, há muitas lendas, cada qual com sua tônica regional. São lendas de origem africana, indígena e portuguesa. Assim, os costumes, valores e cultura de um povo, podem ser estudados através da análise de suas lendas. Com base nessas leituras, podemos conhecer diferentes visões de mundo que mantém viva a tradição dos povos.
Vamos agora conhecer um pouco da cultura oral africana, através de seus contos e de suas lendas. Bons estudos !
Contos e Instrumentos Musicais de Origem Africana
Os
instrumentos de origem africana têm uma
alegria pulsante em sua batida.
Muitas são as
lendas africanas sobre a origem dos seus instrumentos musicais, que quando tocam nos fazem sentir seu som
vibrando em todas
as partes de
nosso corpo. Vamos conhecer
alguns desses instrumentos, começando pelo tambor.
O tambor é um instrumento musical de percussão, que é formado por um tipo de caixa arredondada vazia, coberta por uma espécie de pele. Quando batemos sobre a pele, produzimos um som interessante, por causa da vibração que a pele faz ao receber a batida. O conto abaixo, chamado “a origem do tambor”, vem de um país africano chamado Guiné Bissau e vai nos contar como esse instrumento surgiu.
A Lenda do Tambor Africano: o sonho dos macaquinhos. Conto africano que vem da Guiné Bissau
Dizem na Guiné que
a primeira viagem
à lua foi
feita pelo macaquinho
de nariz branco. Segundo contam as pessoas, certo
dia, os macaquinhos
de nariz branco
resolveram fazer uma
viagem à lua
para trazê-la até
a terra. Tentaram
de todas as
formas subir até
a lua, mas
não tinham sucesso,
até que um deles, o menor de todos, teve a ideia de
subirem uns por cima dos outros para tentar chegar à Lua.
Porém, a pilha de macacos desmoronou e todos
caíram, menos o menor, que ficou pendurado na Lua. Esta lhe deu a mão e o
ajudou a subir. A Lua gostou tanto dele que lhe ofereceu, como presente, um
tamborinho.
O macaquinho foi ficando por lá, até que começou a sentir saudades
de casa e resolveu pedir à Lua que o deixasse voltar.
A Lua o amarrou ao tamborinho para descê-lo pela
corda, pedindo a ele que não tocasse antes de chegar à Terra e, assim que
chegasse, tocasse bem forte para que ela cortasse o fio.
O Macaquinho foi descendo feliz da vida, mas na metade
do caminho, não resistiu e tocou o tamborinho. Ao ouvir o som do tambor a Lua
pensou que o Macaquinho houvesse chegado à Terra e cortou a corda. O Macaquinho
caiu e, antes de morrer, ainda pode dizer a uma moça que o encontrou, que
aquilo que ele tinha era um tamborinho, que deveria ser entregue aos homens do
seu país. A moça foi logo contar a todos sobre o ocorrido. Vieram pessoas
de todo o país e, naquela terra africana, ouviam-se os primeiros sons de
tambor.
O Bongô Africano Artesanal - é um instrumento musical do tipo membra-fone composto por dois pequenos tambores unidos entre si. Em sua forma moderna, no final do século XIX chegou a Cuba, sendo tocado nos bailes de salsa.
GANZÁ (reco-reco do Brasil)
O ganzá é um dos
instrumentos mais conhecidos de origem africana.
geralmente o chamamos de chocalho. Ele é super fácil
de fazer e tem um som bem gostoso.
O CAXIXI
O caxixi é
um instrumento idiofone (o som é
provocado pela vibração) do tipo chocalho, originário
da Região do Congo-Angola, África. Tem o formato de um pequeno cesto de
palha trançada, em forma de campânula.
Pode ter vários tamanhos e ser simples, duplo
ou triplo. A abertura é fechada por uma rodela de cabaça. Tem uma alça no vértice. Possui pedaços de
acrílico, arroz ou sementes secas na parte interna para emitir os sons. É usado
principalmente como complemento do berimbau.
COMO FAZER
SEU GANZÁ (Instruções):
Lave as latas e
retire os rótulos; seque-as bem e
coloque os grãos de milho dentro de
uma das latas; junte a outra lata
e prenda as duas com fita adesiva; passe fitas adesivas
coloridas por todo o seu ganzá, para
que ele fique bem bonito e bem alegre. Agora é só
chacoalhar o seu ganzá - e o corpo também!
Vamos lá !
Lendas Africanas dos Orixás, Deuses da África
As
lendas aqui citadas foram catalogadas pelo fotógrafo francês Pierre
Verger, que viveu durante muitos anos na
Bahia e viajou por dezessete anos pela África Ocidental. Você poderá ler e conhecer essas lendas no link que iremos disponibilizar.
Há muitas lendas africanas que contam as histórias e as aventuras dos Orixás, os deuses da África, como acontece com as aventuras contadas na mitologia grega e romana sobre os deuses daqueles povos antigos, que você estuda nos livros de história.
A história de Oxum, as lendas de Oxossi e de Oxaguian, de Ogum, o
deus do ferro. As
origens de Xangô, de Iemanjá e de Obaluaê,
enfim.
Conheça agora a lenda de OSSAIN, o senhor das virtudes das folhas, plantas medicinais e litúrgicas.
Ossaniyn, Ossaim, Ossãe, Ossain (como se escreve habitualmente) é o Vodun da caça e das florestas e conhece os segredos das
folhas. É filho de Nanã com Oxalá. Comanda as folhas medicinais e litúrgicas chamadas de folhas sagradas, usadas nos ritos do candomblé que são
utilizadas numa mistura especial de nome abô.
Cada Orixá tem a sua folha,
mas só Ossaim detém seus segredos. E sem as folhas e seus segredos não há axé. Portanto, sem ela nenhuma
cerimônia religiosa é possível. Vamos conhecer agora a lenda desse Orixá, deus africano
das folhas - Ossain.
OSSAIN, o Senhor das Folhas
Ossain
receberá de Olodumaré o segredo das folhas.
Ele
sabia que algumas delas traziam a calma ou o vigor.
Outras,
a sorte, a glória, as honras ou ainda, a miséria, as doenças e os acidentes.
Eles
dependiam de Ossain para manter sua saúde ou para o sucesso de suas
iniciativas.
Xangô,
cujo temperamento é impaciente, guerreiro e imperioso, irritado por esta
desvantagem,
usou de um ardil para tentar usurpar a Ossain a propriedade das folhas.
Falou
dos planos à sua esposa Iansã, a senhora dos ventos. Explicou-lhe que, em
certos dias
Ossain pendurava, num galho de Iroko, uma cabeça contendo suas filhas mais poderosas.
Desencadeie
uma tempestade bem forte num desses dias”, disse-lhe Xangô.
Iansã
aceitou a missão com muito gosto.
O vento
soprou as grandes rajadas,
Levando
o telhado das casas,
Arrancando
as árvores,
Quebrando
tudo por onde passava e,
O fim
desejado, soltando a cabaça do galho onde estava pendurada.
A cabaça
rolou para longe e todas as folhas voaram.
Os
orixás se apoderaram de todas.
Cada um
tornou-se dono de algumas delas,
Mas,
Ossain permaneceu senhor do segredo de suas virtudes
E das
palavras que devem ser pronunciadas
Para
provocar sua ação.
E,
assim, continuou a reinar sobre as plantas
Como
senhor absoluto.
Graças ao poder (axé) que possui sobre elas.
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