quarta-feira, 9 de abril de 2014

Quatro Poemas de Carlos Drummond de Andrade: Desejo a você; No meio do caminho; Quero; José. Biografia de Drumond. Atividades

Apresentamos    quatro  belíssimos poemas do escritor brasileiro  Carlos Drummond de Andrade para você conhecer, analisar, memorizar  e declamar. São eles: 1) Desejo a você; 2) Quero; 3) no meio do caminho; 4) José. 

O poema Quero vem com uma análise interpretativa  pelo jornalista e apresentador do Jornal Nacional, da Rede Globo de TV, William Bonner.  Assista ao vídeo da entrevista. Ouça o poema também na voz do ator brasileiro Paulo Autran.  O poema José foi musicado por Chico Buarque de Holanda. Ouça a música, leia os poemas.   Espero que goste. Boas reflexões!  
Namoro no portão

Desejo a você


Desejo a você…
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme do Carlitos
Chope com amigos
Banho de cachoeira
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a Banda passar
Ver a banda passar 
Noite de lua Cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus.
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho
Sarar de resfriado
Escrever um poema de Amor
Festa, violão, seresta
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender uma nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão                                               
Uma seresta                                                        
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco  Bolero de Ravel…
E muito carinho meu.
Autor:  Carlos Drummond de Andrade 
II - Quero






Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.

Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?
Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao não dizer: Eu te amo,
desmentes
apagas
teu amor por mim...


Fonte: http://www.citador.pt/poemas quero-carlos-drummond-de-andrade

Ouça o poema  e  análise interpretativa, na voz do jornalista e apresentador do Jornal Nacional, da Rede Globo de TV, William Bonner, numa entrevista à  Marília Gabriela, Canal GNT. Ele diz que foi apresentado ao poema Quero no Cursinho Pré-vestibular. Imperdível !  E você, conheceu  o poema aqui agora, ou já o conhecia?  Conte-nos como o conheceu. Veja o poema na íntegra. Assista o vídeo da entrevista. 
 http://letras.mus.br/carlos-drummond-de-andrade/1005567/ 
Ouça o poema também na voz do ator brasileiro Paulo Andrade. Imperdìvel!  
http://www.contioutra.com/quero-carlos-drummond-de-andrade-voz-de-paulo-autran/
No meio do caminho
tinha uma pedra...
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
Autor:  Carlos Drummond de Andrade
Fonte: Poemas e Pensamentos. Disponível em: 
IV - Poema:   José

Música José. Ouça o poema musicado pelo cantor e compositor brasileiro Chico Buarque de Holanda, na voz de Paulo Diniz:

    Breve Análise do Poema José 

José é um poema de desencontros, marcado por um profundo ceticismo, e  mostra  uma visão pessimista do cotidiano. Seu tema central é a solidão do homem, sua falta de espaço. Escrito durante a Segunda Guerra Mundial e a ditadura de Getúlio Vargas, José, apesar da dureza, ainda tem o impulso de continuar seguindo. 
As interpelações, cada vez mais repetidas nos seus versos, reforçam a situação do homem que já não tem ambiente, que está só.  “José” é a metonímia, um heterônimo do próprio autor e/ou de um povo, cuja situação é repetida dia a dia, pois não há destino certo.
 “José” é carente de tudo: “está sem mulher”, “está sem carinho”; não encontra nem palavras: “está sem discurso”. Totalmente acuado, “sozinho no escuro, qual bicho-do-mato”, a ele resta a solidão e o abandono, já que José não tem a fé religiosa para se refugiar “sem teogonia”.

O poema de Carlos Drumond de Andrade aplica-se aos milhares de “Josés” que transitam pela vida sem serem notados, ouvidos ou vistos. Aplica-se aos Josés” condenados pela sociedade à solidão e ao anonimato, que não tiveram nenhuma oportunidade de se realizar como homem, mesmo sem saber para onde ir, como podemos observar nos versos a seguir.  Agora leia o poema na íntegra:  
III - Poema:                                             José
Autor: Carlos Drumond de Andrade


E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?


Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?



E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora?





Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não, existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?


Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse
se você cansasse,
se você morresse...
mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho do mato, sem teogonia, sem parede nua
para se recostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
Biografia  de Carlos Drumond de Andrade

Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987) 
foi um poeta, contista e cronista brasileiro, considerado por muitos o mais influente do século XX.  Nasceu  em 31 de outubro de 1902, na cidade de Itabira, estado de Minas Gerais, na Região Sudeste do Brasil. 

Faleceu em  17 de agosto de 1987, doze dias após a morte de sua filha única, na cidade do Rio de Janeiro, estado também situado na Região sudeste.  
O  poeta fez parte da Semana de Arte Moderna.  Os traços mais característicos de sua poesia seriam o humor, o tom coloquial de confidência, de conversa, beirando ao prosaico e o brejeiro, tudo combinado a uma personalidade dramática. 
Seus poemas abordam assuntos do dia a dia, e contam com uma boa dose de pessimismo e ironia diante da vida. Em suas obras, há ainda uma permanente ligação com o meio e obras politizadas. Além das poesias, escreveu diversas crônicas e contos.

Os principais temas retratados nas poesias de Drummond são: conflito social, a família e os amigos, a existência humana, a visão sarcástica do mundo e das pessoas,  as lembranças da sua terra natal.
Homenagem a Drumond na praia de
Copacabana, Rio de Janeiro

Atividades

1. Você gostou dos poemas? Quem é o autor? 
2. Qual dos quatro  poemas aqui apresentados você  gostou mais? Porquê
3. Reescreva o poema que você mais gostou. Não se deixe  intimidar! Reescreva do seu jeito. 
4. Escreva um pequeno texto com a biografia de Carlos  Drumond de Andrade. 

Referências (Sites consultados)
http://www.fisica.ufpb.br/~romero/port/ga_cda.htm#Joshttp://lazer.hsw.uol.com.br/drummond1.htm
http://www.gramaticaonline.com.br/texto/1139/Tinha_uma_pedra_no_meio_do_caminho
Os Dez melhores  poemas de  Carlos Drumond de Andrade
http://www.revistabula.com/391-os-dez-melhores-poemas-de-carlos-drummond-de-andrade/
Biografia de Drumond
http://www.suapesquisa.com/biografias/drummond.htm
Citador. Poema Quero
http://www.citador.pt/poemas/quero-carlos-drummond-de-andrade