Não é a fome ou a sede, mas o amor ou o ódio, a piedade, a cólera, que aos primeiros homens lhes arrancaram as primeiras vozes... Eis porque as primeiras línguas foram constantes e apaixonadas antes de serem simples e metódicas”.
Jean Jacques Rousseauem seu Ensaio sobre a Origem das Línguas
Jean Jacques Rousseau
Apud Chauí, Marilena. Convite à Filosofia. Editora Ática, 1994, p. 136 a 153
A Linguagem é o meio pelo qual nos expressamos, nos comunicamos e externamos nossos pensamentos e sentimentos. Gestos e vozes, na busca da expressão e da comunicação, fizeram surgir a linguagem. Desvendar sua origem, há séculos tem sido uma das questões mais intrigantes para teólogos, antropólogos, historiadores, filólogos, linguistas, filósofos de todas as épocas e pesquisadores da área, em geral.
Esta preocupação extrapola inclusive a curiosidade da mente humana e está registrada no primeiro livro do Pentatêuco: o Gênesis, como veremos adiante, no trecho que fala sobre a Torre de Babel.
Na abertura da sua obra denominada Política, o filósofo grego Aristóteles (384 a .C.-322 a .C.), aluno de Platão e professor de Alexandre, o Grande afirma que somente o homem é um “animal político”, isto é, social e cívico, porque somente ele é dotado de linguagem. Os outros animais, escreve Aristóteles, possuem voz (Phone) e com ela exprimem dor e prazer, mas o homem possui a palavra ( Logos) e, com ela, exprime o bom e o mal, o justo e o injusto”.
Já o filósofo iluminista Jean Jacques Rousseau nascido em Genebra, na Suíça (1712-1778), que viveu em Paris até a sua morte, no primeiro capítulo de sua obra-Ensaio sobre a Origem das Línguas, diz:
“A palavra distingue os homens e os animais; a linguagem distingue os homens entre si. Não se sabe de onde é um homem antes que ele tenha falado”.
“A palavra distingue os homens e os animais; a linguagem distingue os homens entre si. Não se sabe de onde é um homem antes que ele tenha falado”.
Para Rousseau não foi a satisfação das necessidades primárias do homem (fome, sede) que contribuíram para o surgimento das línguas, mas fatores ligados às emoções, aos sentimentos humanos e a necessidade de expressá-los.
Saindo do plano das idéias e entrando na dimensão mitológico/espiritual, citamos o texto bíblico - A Torre de Babel, que diz que no princípio havia apenas uma língua por meio da qual a humanidade se comunicava, formando um único povo,mas Deus, ao ser desobedecido confundiu as línguas. Com a confusão e o aparecimento de vários línguas na Torre de Babel, Deus impôs um obstáculo na comunicação, evitando ações irrestritas, segundo o texto, que transcrevemos abaixo.
A TORRE DE BABEL
E era toda a terra de uma mesma língua e de uma mesma fala. E aconteceu que, partindo eles do oriente, acharam um vale na terra de Sinar; e habitaram ali. E disseram uns aos outros: Eia! Façamos tijolos e queimemo-los bem. E foi-lhes o tijolo por pedra, e o betume por cal.
E disseram: Eia! Edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus, e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra. Então desceu o Senhor para ver a cidade e a torre que os filhos dos homens edificavam.
E o Senhor disse: eis que o povo é um, e todos têm uma mesma língua; e isto é o que começam a fazer; e agora, não haverá restrição para tudo o que eles intentarem fazer.
A CONFUSÃO DAS LÍNGUAS
Eia! Desçamos e confundamos ali a sua língua, para que não entendam um a língua do outro. Assim o Senhor os espalhou dali sobre a face de toda a terra; e cessaram de edificar a cidade. Por isso se chamou o seu nome Babel, porquanto ali confundiu o Senhor a língua de toda a terra, e dali os espalhou o Senhor sobre a face de toda a terra.
Gênesis, capítulo 11, versículos de 1 a 9 (primeiro Livro da Bíblia Sagrada, Antigo Testamento).