domingo, 28 de fevereiro de 2016

"Dez Mandamentos do Professor". Para refletir: Onde estará situada a escola do século XXI?


Gostei muito do artigo escrito por Leandro Karnal, publicado na Revista Pazes, dia 27/02/16, com o título: “Dez Mandamentos do Professor”. 

Não estou postando na íntegra, fiz  ligeiras adaptações para  publicá-lo aqui, com o objetivo de nos ajudar  mutuamente no nosso cotidiano na sala de aula. 


Tomara que seja útil. Afinal, precisamos descobrir urgentemente:  onde estará situada a escola do século XXI? 

Esta é uma provocação que faço para refletirmos.  Vamos ver o que pensa o Professor, e  com o qual concordo. 

"A sabedoria do mais influente legislador do Ocidente, Moisés, sintetizou uma concepção de mundo em Dez Mandamentos. Como bom educador, o ex-príncipe do Egito sabia que longos códigos são de difícil acesso. Curioso notar que constituições muito breves, como a norte-americana, passam dos dois séculos e constituições prolixas, como todas as brasileiras , caducam em prazos muito curtos. 


Inspirado neste exemplo, elaboramos os Dez Mandamentos do Professor. Estes dez mandamentos são fruto de uma experiência particular e não se pretendem eternos ou válidos em qualquer ocasião. Gostaria apenas de fornecer a colegas, como você leitor, uma reflexão particular, que possa ser aprofundada, reinterpretada ou rejeitada de acordo com a sua experiência.

O que me levou a pensar nestes princípios é a mesma angústia que assola qualquer educador: como ser um bom profissional, ensinar, transformar meu aluno e fazer parte desta transformação? Como superar o tédio dos meus alunos, a indisciplina, a irrelevância de algumas coisas que faço e meu próprio cansaço? Como não considerar a sala um fardo e o relógio um inimigo? Como parar de achar que só vivo a partir do fim-de-semana? 
A partir destes questionamentos, você está permanentemente convidado a adensar ou criticar, fazer seus outros dez ou sintetizar a dois ou três, pois, quem acha que pode melhorar a aula que dá , já começou a viver educação".   Karnal, Leandro 

                    1. MANDAMENTO: CORTAR O PROGRAMA


Quase todas as disciplinas foram perdendo aulas ao longo do tempo, mas os programas não acompanham estes cortes. A justificativa é a pressão do vestibular. Se a justificativa é uma regra da escola ou um coordenador obsessivo, lembre-se: o Diário de Classe sempre foi o documento por excelência do estelionato. A coragem da grande tesoura é essencial. Dar tudo equivale a dar nada. Ensinar a pensar não implica esgotar o conhecimento humano.

                     2. MANDAMENTO: SEMPRE PARTIR DO ALUNO

Chega de lamentar o aluno que não temos! Chega de lamentar que eles não leem. Este é o meu aluno real. Se, para ele, Paulo Coelho é superior a Machado de Assis e baile Funk é superior a Mozart, eu preciso saber desta realidade para transformá-la. Se ele é analfabeto devo começar a alfabetizá-lo. Se ele está no Ensino Médio e ainda não domina soma de frações de denominadores diferentes devo estar atento: esta é minha realidade. A partir do zero eu posso sonhar com o cinco ou seis. A partir do imaginário da perfeição é difícil produzir algo. A Utopia, desde Platão e Thomas Morus, tem a finalidade de transformar o real, nunca de impossibilitá-lo.
3. MANDAMENTO: PERDER O FETICHE DO TEXTO
Em todas as áreas, em especial nas humanas, os alunos são instigados quase que exclusivamente ao texto. Num mundo imerso na imagem e dominado por sons e cores, tornamos o texto central na sala de aula. Devemos estar atentos ao uso de imagens, música, sensorialidades variadas. O texto é muito importante, nunca deve ser abandonado. Porém, se o objetivo é fazer pensar, o texto é apenas um instrumento deste objetivo maior. Lembre-se de que há outros instrumentos.  Usar filmes, propagandas, caricaturas, desenhos, mapas: tudo pode servir ao único grande objetivo da escola: ajudar a ler o mundo, não apenas a ler letras.
4. MANDAMENTO: POSSIBILITAR O CAOS CRIATIVO
Fomos educados a um ideal de ordem com carteiras emparelhadas e, mesmo no fundo do nosso inconsciente, este ideal persiste. Qual professor já não teve o pesadelo de perder o controle total de uma sala, especialmente na noite mal dormida que antecede o primeiro dia de aula? 
Devemos estar preparados para o caos criador e para o lúdico. Alunos andando pela sala, trocando fragmentos de textos ou imagens dados pelo professor, discussões, encenações, o professor recitando uma poesia ou mandando realizar um desenho: tudo pode ser canal deste lúdico que detona o caos criativo. 

Surpreenda seus alunos com uma encenação, com um silêncio, com um grito, com uma máscara. Uma sala pode estar em ordem e ninguém aprendendo e pode estar com muitas vozes e criando ambiente de aprendizado. 
5. MANDAMENTO: INTERDISCIPLINAR
Assim mesmo, entendido o princípio como um verbo, como uma ação deliberada. É fundamental fazer trabalhos com todas as áreas. Elaborar temas transversais como o MEC pede e, ao mesmo tempo, libertar o aluno da ideia didática das gavetas de conhecimento. Não apenas áreas afins (como História e Geografia) mas também Literatura e Educação Física, Matemática e Artes, Química e Filosofia. É preciso restaurar o sentido original de conhecimento, que nasceu único, inteiro, completo, universal,  e foi sendo fragmentado até perder a noção de todo. 
6.  MANDAMENTO: PROBLEMATIZAR O CONHECIMENTO
Oferecer ao aluno o cerne da ciência e da arte: o problema. Não o problema artificial clássico na área de exatas, mas os problemas que geraram a inquietude que produziu este mesmo conhecimento.  Mostre as incoerências, as dúvidas, as questões estruturais de cada matéria. Mostre textos opostos, visões distintas, críticas de um autor ao outro. Nunca fazer um trabalho como: “O Feudalismo” ou “O Relevo do Amapá”; mas problemas para serem resolvidos. Todo animal (e, por extensão, o aluno) é curioso. Porém, é difícil ser curioso com o que está pronto. Sejamos francos: se é tedioso ler um trabalho destes, qual terá sido o tédio em fazê-lo?
7.  MANDAMENTO: VARIAR AVALIAÇÕES
Provas escritas são válidas, como a vitamina A é válida para o corpo humano. Porém, avaliações variadas ampliam a chance de explorar outros tipos de inteligência na sala. As outras avaliações não devem ser vistas como um trabalhinho para dar nota e ajudar na prova, mas como um processo orgânico de diminuir um pouco a eterna subjetividade da avaliação.
8. MANDAMENTO: USAR O MUNDO DA CONTEMPORANEIDADE NA SALA DE AULA
O mundo atual configurado inexoravelmente pela Internet, pelas mídias sociais,  pela TV, pelas  músicas de sucesso..., deve ter espaço na escola frequentada pela geração  do século XXI.  
A escola e a sala de aula precisam dialogar com este mundo e com este aluno, que em geral,  não gosta do espaço da sala de aula, por ser  muito artificial, deslocado, fora do seu interesse. Usar o mundo da comunicação contemporânea não significa repetir o mundo desta comunicação, mas estabelecer um gancho com a percepção do nosso aluno.
9.  MANDAMENTO: ANALISAR-SE PESSOALMENTE
A primeira pessoa que deve responder aos questionamentos da educação é o professor. Somos nós que devemos saber qual o motivo de dar tal coisa, qual a relevância, qual a utilidade de tal leitura.  Minha irritação com a turma indisciplinada é uma espécie de raiva por saber que eles estão certos? Minha formação permanente me indica novos caminhos? Estou repetindo fórmulas que deram certo quando eu era aluno há 20 ou mais anos? É necessário um exercício analítico-crítico muito denso para que eu enfrente o mais duro olhar do planeta: o do meu aluno.
10. MANDAMENTO: SER PACIENTE
Ser paciente é a maior virtude do professor - a paciência de saber que, como dizia Rubem Alves, plantamos carvalhos e não eucaliptos. Nossa tarefa é constante, difícil, com resultados pouco visíveis a médio prazo. Porém, se você está lendo este texto, lembre-se que  houve uma professora ou um professor que o alfabetizou, que pegou na sua mão e  lhe ensinou  dezenas de vezes, a fazer a simples curva da letra O. Graças a estas paciências, somos o que somos. 
O modelo da paciência pedagógica é a recomendação materna para escovar os dentes: foi repetida quatro vezes ao dia, durante mais de uma década, com erros diários e recaídas diárias.  As mães poderiam dizer: já que vocês não querem nada com o que é melhor para vocês, permaneçam do jeito que estão que eu não vou mais gritar sobre isto (típica frase de sala de aula…) . 
Sem estas paciências, seríamos analfabetos e banguelas. Não devamos oferecer menos ao nosso aluno, especialmente ao aluno que não merece nem quer esta paciência. Este é o que necessita urgentemente dela. O doente precisa do médico, não o sadio. O aluno-problema precisa de nós, não o brilhante e limpo discípulo da primeira carteira.
Adaptação  pela  Profa. Claudia Martins, do texto original de Leandro Karnal, publicado na Revista Pazes, em 27/02/16, com o título: “Dez Mandamentos do Professor”. Acesso em 28/02/16. Disponível em:  http://www.revistapazes.com/dez-mandamentos-professor/
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